A grande surpresa que o Casino Estoril oferece no Salão Preto e Prata, sala de visitas dos maiores artistas de todo o mundo, que agora recebe o Fado, a Alma e a História de todos nós.

domingo, 15 de agosto de 2010

Fado – História de um povo: O grande sonho de Filipe La Féria

"Tive a oportunidade de assistir ao novo espectáculo do meu querido amigo Filipe La Féria – “Fado, História de um Povo” e devo dizer que saí do salão preto e prata do Casino do Estoril emocionado e, ao mesmo tempo, maravilhado com tudo quanto me foi dado ver durante cerca duas horas. Não sei bem por onde começar se pela fabulosa imaginação do Filipe, que num rasgo de grande talento foi juntando as “pedras de um puzzle” e agora proporciona ao público, todas as noites, o mais deslumbrante espectáculo que retrata o fado, Lisboa e a história do seu povo ou se menciono o conjunto de vozes únicas todas elas, pela tonalidade e interpretações excelentes, envolvem-nos e arrancam do publico os mais calorosos aplausos com gritos de muitos bravos à mistura.
Tudo isto bastaria para satisfazer aqueles que todas as noites vão ao Casino Estoril; justificava, por si só, a viagem que se realiza, mas o Filipe La Féria, criador, com a sua salutar loucura, oferece muito mais: um guarda-roupa que ultrapassa tudo quanto se possa pensar; um jogo de luzes que faz sonhar, textos e fados minuciosamente escolhidos. Uma história intensa com tantas surpresas pelo meio: do tecto da sala em lanternas gigantes, iguais às das ruas de Lisboa, bailarinos complementam as cenas do palco ou então em tiras de tules brancos acrobatas deliciam-nos, caem sobre nós, como se viessem do céu azul de Lisboa. Antes do espectáculo há uma maravilhosa saga, com tudo aquilo que a cidade de Lisboa tinha e que se perdeu nos passos do progresso, mas o Filipe faz reviver essas tradições de uma forma extraordinária onde chovem a graça e a beleza do típico, do característico, que o tempo matou, mas que curiosamente continua no imaginário dos alfacinhas que se reencontram com eles mesmos, por momentos, naquela sala, onde se instala a emoção e se dependuram nos olhos a saudade desses dias distantes…
Todos os elementos que constroem o espectáculo são fantásticos mas gostaria de mencionar os nomes da Alexandra, do Henrique Feist, da Liliana, do Nuno Salgueiro. Eles são verdadeiros gigantes em palco. E ainda Paula Sá, Inês Santos e as novas revelações Jorge Silva, luís Caeiro, Luís Matos, Fábio Gil e Tiago Correia. Todos eles conseguem viver apaixonadamente as cenas e transmitirem essa força, que explode nas suas almas, ao público. Quando vejo gente com este talento pergunto-me: como é possível que este país não apoie o teatro? Como é possível que este país, os seus governantes, não incentivam estes talentos? Como é possível que a Cultura se esqueça deste manancial de artistas, jovens e mais velhos, que lutam para encontrar um palco onde possam dar azo as suas potencialidades. Ainda bem que há um Filipe La Féria que mesmo com todas as dificuldades e problemas enche-se de coragem e “loucura” e monta o espectáculo. Não é fácil sobretudo porque os custos ultrapassam as dezenas de milhares de euros. Num país onde a banca fechou todas as possibilidades de apoios, de empréstimos, porque agora fez pactos com o diabo e não com aqueles que tanto desejam levar a efeito iniciativas certamente lucrativas e humanizantes. Como se pode desenvolver este país?!
Ninguém mo disse, mas estou certo que se este espectáculo está em cena deve-se a uma grande personalidade, sensível, culto, que sempre teimou que ao lado dos interesses materiais do Casino deveria vingar a cultura e disso temos tantas provas. Entre essas, a revista “Egoísta” considerada, no género, a melhor da Europa. A pessoa de quem vos falo é o dr. Assis Ferreira. A ele endereço daqui os meus sinceros parabéns e a admiração pelo grande espectáculo que é o “Fado – História de um Povo”. Homenageio-o pelo muito que fez pela cultura e sobretudo por essa sua forma de estar na vida, respeitando e estimulando aqueles que consigo colaboram. O espectáculo do Filipe prestigia e honra o Casino Estoril.
Dirijo-me ao Senhor Secretario de Estado do Turismo, cuja sensibilidade e competência reconheço para ocupar o cargo de um sector onde o humanismo e a poesia marcam lugar. Conheço-o bem, como à sua família, que sempre fez das relações humanas e da cultura pontes de amizades, e através delas ligaram a Madeira a muitos amigos de outros países. Dr. Bernardo Trindade vá até ao Casino Estoril e veja este grande espectáculo. Estou certo que se o levasse a Paris, a Madrid ou a qualquer outra cidade europeia, faria uma promoção mais eficaz do que alguns anúncios em revistas ou jornais. Eu tive o privilégio de assistir em Paris aos espectáculos do musical “Amália” que em cada noite reuniam 5 mil pessoas, que gritavam e batiam com os pés no chão: plus, plus, plus. Qualquer coisa de inesquecível. A partir dessa noite muitos franceses desejaram conhecer Portugal.
Senhora Ministra da Cultura se ainda não viu o espectáculo vá ao Casino que certamente não perderá o seu tempo; vá porque o Filipe La Féria, os artistas, os técnicos e os produtores merecem que a Ministra que tutela a Cultura os veja, os admirem pelo grande trabalho que oferecem todas as noites aos portugueses e estrangeiros. Isso constituirá certamente um incentivo. Às vezes uma palavra é mais importante de que um medicamento, como dizia a madre Teresa de Calcutá. E esta gente, mais ou menos jovem, que constrói e vive com paixão o teatro; esta gente que tanto teima em fazer da cultura o seu caminho, necessita dessa palavra.
Filipe La Féria, eu admiro-o e respeito-o muito, como Amigo. Admiro-o por tudo o que constitui a sua personalidade multifacetada. Ninguém melhor que o meu Caríssimo Amigo, que viveu e estudou o teatro deste país; ninguém como o Filipe que depois de frequentar as escolas de Londres quis voltar a Lisboa pode dizer os “porquês” desta indiferença aflitiva que se derrama sobre o teatro em Portugal. A história demonstra que antes de si outros lutaram também, falo, por exemplo, do Vasco Morgado que até as jóias da Laura Alves empenhou para que o teatro não morresse.
Estou neste momento a ler um livro interessantíssimo sobre a vida de Rossellini, tal como o Filipe ele sonhava e concretizava as iniciativas por entre um mar tremendamente tempestuoso de problemas financeiros. O sonho superava tudo. Continue Filipe não deixe que matem os seus sonhos porque deles muito necessitam os portugueses que o admiram e estimam."


Artigo de Opinião de : João Carlos Abreu